Uma série de documentos secretos, entretanto tornados públicos, sugere que o TikTok foi explorado por um "ator estatal" para influenciar o resultado das eleições presidenciais na Roménia.
A Comissão Europeia enviou ao TikTok um pedido de informação "urgente", exigindo mais respostas sobre o papel cada vez mais controverso da plataforma na primeira volta - entretanto anulada pelo Tribunal Constitucional - das eleições presidenciais da Roménia, que deram vitória inesperada a Călin Georgescu e alimentaram sérias preocupações de interferência estrangeira.
Georgescu, um candidato independente que abraçou uma visão eurocética, amiga da Rússia, ultranacionalista e pseudocientífica, iria enfrentar Elena Lasconi, uma liberal pró-europeia, na segunda volta que estava marcada para este domingo - e que foi entretanto suspensa.
"Estamos preocupados com os indícios crescentes de uma operação coordenada de influência estrangeira em linha que visa as eleições romenas em curso, especialmente no TikTok", disse Henna Virkkunen, vice-presidente executiva da Comissão responsável pela política digital.
O pedido, publicado na sexta-feira, baseia-se na Lei dos Serviços Digitais (DSA) e tem um prazo de 24 horas. É o segundo pedido de informações enviado ao TikTok no contexto das eleições romenas no espaço de duas semanas.
Bruxelas quer que a empresa esclareça as revelações contidas nos documentos dos serviços secretos que o presidente romeno Klaus Iohannistornou públicos na quarta-feira, que sugeriam fortemente que a ascensão abrupta de Georgescu não tinha sido "um resultado natural", mas o resultado de uma ação coordenada artificialmente para manipular e explorar o algoritmo do TikTok.
A campanha foi provavelmente orquestrada por um "ator estatal", segundo os documentos. Embora a Rússia não seja mencionada como culpada, as agências detetaram semelhanças entre a campanha online na Roménia e uma anterior que Moscovo tinha conduzido na Ucrânia.
De acordo com o Serviço de Informações Romeno (SRI), uma rede anteriormente oculta, operando principalmente no TikTok, que estava em grande parte adormecida desde a sua criação, em 2016, tornou-se muito ativa nas duas semanas anteriores à primeira volta das eleições. Os operadores da rede, recrutados e coordenados através de um canal na plataforma de mensagens Telegram, utilizaram métodos típicos do "modo de operação" de um ator estatal.
O SRI também informou que quase um milhão de euros foram gastos na campanha por um indivíduo que apoiava a candidatura de Georgescu, com até 950 euros pagos por uma republicação. O próprio TikTok admitiu ter recebido 362.500 euros desta pessoa na semana passada, segundo os documentos.
A divulgação das informações provocou ondas de choque na Roménia e não só, alimentando o receio de que o país da Europa de Leste tenha sido vítima de interferência estrangeira.
"O TikTok precisa de criar recursos para combater as operações de informação antes do fim de semana eleitoral que se aproxima", afirmou um porta-voz da Comissão.
TikTok sob escrutínio
O pedido de informações surge na sequência da "ordem de retenção" anunciada por Bruxelas na quinta-feira, que obriga o TikTok a "congelar e preservar" todos os documentos e informações internas, incluindo o seu sistema de recomendações e a promoção monetizada de conteúdos políticos, relacionados com os riscos eleitorais em todo o bloco.
A ordem será aplicável de 24 de novembro de 2024 a 31 de março de 2025 e abrange as próximas eleições na Roménia, Croácia, Áustria, Grécia e Alemanha.
Os dados retidos pela ordem poderão ajudar a Comissão a abrir uma investigação formal sobre o papel do TikTok na corrida romena. A investigação, que representaria a fase seguinte do pedido de informações, ainda não foi anunciada.
O TikTok não respondeu às perguntas enviadas por email pela Euronews.
Na terça-feira, os representantes da empresa foram interrogados no Parlamento Europeu, tendo tentado defender as ações do TikTok na Roménia. Os executivos afirmaram que a plataforma retirou do ar várias redes destinadas a interferir nas eleições, incluindo uma com 1.781 seguidores, que apoiava Georgescu.
Os eurodeputados saíram da reunião visivelmente insatisfeitos, queixando-se de que muitas das suas perguntas ficaram sem resposta. Valérie Hayer, líder do Renew Europe, pediu a convocação de Shou Zi Chew, diretor executivo do TikTok, para comparecer perante o hemiciclo.
"O que aconteceu na Roménia é mais um sinal de alerta para nós: a desinformação pode acontecer em toda a Europa com consequências muito nefastas", escreveu.
Hayer afirmou que se Bruxelas determinar que o TikTok violou a Lei dos Serviços Digitais, a UE "deve seguir-se de sanções rigorosas, sem excluir uma suspensão ou uma proibição total".
O TikTok, de propriedade chinesa, tem sido alvo recorrente de escrutínio nos países ocidentais devido à disseminação de desinformação e propaganda através do seu poderoso algoritmo, que mantém os utilizadores presos a um fluxo interminável de conteúdos recomendados.
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