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"Boicote do Carrefour: Tensão Diplomática e Econômica Entre Brasil e França"

 


Boicote do Carrefour cria tensão diplomática e econômica entre Brasil e França

  • Especialistas ouvidos pelo R7 apontam que o Carrefour errou ao não calcular os efeitos do boicote em um mercado como o brasileiro


O anúncio do Carrefour de que deixará de comprar carnes do Mercosul ( grupo composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), gerou uma crise que envolve o setor econômico, o governo brasileiro e os frigoríficos nacionais, segundo avaliação de especialistas ouvidos pelo R7.

A decisão do Carrefour foi comunicada pelo CEO global da rede, Alexandre Bompard, e justificada como uma medida para atender às pressões de sindicatos franceses e às preocupações ambientais impostas pela União Europeia. No entanto, a retaliação por parte do governo federal e de grandes frigoríficos brasileiros, seguida de uma carta de retratação de Bompard, revelou o impacto direto do episódio nas relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e França.


Professor de economia do Mackenzie, Hugo Garbe descreve o episódio como “um ruído grave nas relações comerciais” que pode evoluir para uma crise diplomática mais ampla.


“O Brasil abriga as maiores indústrias alimentícias do mundo, especialmente no agronegócio. O boicote dos frigoríficos, somado à reação do governo federal em apoiar essas empresas, pode ampliar o impacto desse conflito nas relações comerciais entre os dois países. O Carrefour tentou agradar os sindicalistas franceses, mas negligenciou o fato de ser um grupo multinacional com grande relevância no Brasil”, analisa Garbe.

O economista Newton Marques, membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, aponta que o Carrefour errou ao não calcular os efeitos do boicote em um mercado como o brasileiro, onde a rede tem uma presença significativa. Segundo Marques, a decisão inicial foi influenciada pelo agronegócio europeu, que teme a competitividade do setor brasileiro.


“O agronegócio brasileiro é mais produtivo, o que gerou temor entre empresários franceses. A retaliação dos frigoríficos foi um golpe direto ao Carrefour e ao atacadão no Brasil, que dependem fortemente da carne brasileira. Quem perde mais é o Carrefour, que terá dificuldade em manter suas vendas no mercado nacional com esse boicote em andamento.”


Cientista político e professor da Udesc Esag, Daniel Pinheiro acrescenta que “grandes empresas, como o Carrefour, ao questionarem a capacidade produtiva de um país, geram impactos significativos na cadeia produtiva e nas relações comerciais".


Como surgiu a polêmica?


Na última quarta-feira (20), Alexandre Bompard anunciou que as lojas do Carrefour na França suspenderiam a compra de carnes do Mercosul, alegando alinhamento a normas ambientais europeias e apoio aos agricultores franceses. Segundo ele, o objetivo seria proteger os produtores locais de uma concorrência que poderia “inundar o mercado francês com carne que não respeita as exigências e normas locais”.


A reação no Brasil foi imediata. Frigoríficos como Marfrig, JBS, Masterboi e Minerva, que representam 80% do fornecimento de carnes para o Carrefour Brasil, suspenderam o abastecimento de carnes à rede. Esse movimento gerou um impacto direto no mercado da rede varejista no Brasil e pressionou o CEO a emitir uma carta de retratação.


Na carta, divulgada nessa terça-feira (26), Bompard pediu desculpas caso a “comunicação do Carrefour França” tenha causado “confusão” ou sido “interpretada como questionamento” à parceria com a agricultura brasileira. Apesar da retratação, o Carrefour manteve a decisão de priorizar a compra de carnes de produtores franceses.






“Temos orgulho de sermos um grande parceiro histórico da agricultura brasileira. Sabemos que a agropecuária brasileira fornece carne de alta qualidade e sabor. Continuaremos a valorizar os setores agrícolas brasileiros, como fazemos há 50 anos. Assim seguiremos prestigiando a produção local e fomentando a economia do Brasil”, declarou Bompard.

Nessa terça, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Agricultura e Pecuária emitiram uma nota conjunta em que dizem que o governo brasileiro se manterá “vigilante na defesa da imagem do país e da sua produção, em coordenação com o setor privado".

Na nota, o governo diz esperar “que as empresas que anunciaram boicotes a produtos brasileiros revertam essas decisões infundadas e que todos os atores que tenham contribuído para essa campanha de desinformação tenham presentes as consequências negativas de seus atos".


Questões comerciais e diplomáticas em jogo


A tensão se insere em um contexto maior: a negociação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. A França tem liderado a resistência ao tratado, que está em discussão desde 1999, alegando preocupações ambientais e econômicas. Enquanto países como Alemanha e Espanha apoiam o avanço das negociações, o posicionamento francês tem sido um obstáculo significativo.

Além disso, o Projeto de Lei 1.406/2024, em tramitação na Câmara dos Deputados, visa proibir o governo brasileiro de assinar acordos internacionais com cláusulas ambientais desiguais. Durante um evento recente, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criticou duramente a decisão do Carrefour, classificando-a como “protecionismo exagerado”.

“A legislação que estamos discutindo no Congresso pode garantir isonomia ambiental e impedir que protecionismos injustificados prejudiquem um setor tão importante para a economia brasileira”, declarou Lira.


Próximos passos e desdobramentos


Embora o Carrefour tenha mantido sua decisão na França, a expectativa agora recai sobre como o governo brasileiro responderá ao episódio. O boicote dos frigoríficos segue em curso, e especialistas acreditam que a continuidade dessa ação pode pressionar o Carrefour a rever sua postura.

O episódio evidencia a fragilidade das relações comerciais entre Brasil e França, especialmente em setores como o agronegócio, que representam pilares estratégicos para ambos os países. Caso a tensão persista, o impacto pode se refletir em negociações futuras, como o acordo Mercosul-União Europeia, e em uma reavaliação das estratégias comerciais de grandes empresas globais como o Carrefour.

Credito: R7 Brasília 





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