Uma autoridade do governo dos EUA disse neste sábado (7/11) à emissora CBS, parceira da BBC no país, que a capital da Síria, Damasco, está sendo tomada por rebeldes "subúrbio após subúrbio".
Os rebeldes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e de grupos aliados já tomaram o controle da cidade de Homs, de acordo com relatos do front.
O governo nega que tenha perdido controle de Homs, mas as forças do Hezbollah, que são aliadas do governo Sírio, dizem que estão se retirando da cidade pois não são mais capazes de manter uma linha de defesa por lá.
Eles já tinham ocupado Aleppo, Deraa e Hama desde que lançaram uma grande ofensiva na semana passada.
Além disso, eles mantém o controle da província de Idlib, que ocupam desde 2011, quando ainda tinham outro nome.
O ritmo do avanço dos rebeldes na Síria tem sido impressionante, afirma o corresponde da BBC no Oriente Médio, Hugo Bachega.
O governo da Síria negou relatos de que o presidente Bashar al-Assad e sua família tenham deixado Damasco.
O ministro do interior da Síria disse que há um "cerco militar forte" em volta de Damasco e que ninguém conseguiria passar, segundo a agência de notícias AFP.
Militares israelense informaram que estão prestando ajuda para as forças da ONU (Organização das Nações Unidas) que estariam sob ataque de grupos armados.
Pouco antes, o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) disse que tinha o dever de proteger representantes internacionais e da ONU na Síria.
Os rebeldes disseram que seu objetivo é derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad, considerado autoritário e acusado de diversas violações de direitos humanos.
Por sua vez, o HTS é designado como uma organização terrorista pela ONU (Organização das Nações Unidas), pelos EUA, pela Turquia e por outros países.
— Quem são os militantes islâmicos?
O HTS foi criado com um nome diferente, Jabhat al-Nusra, em 2011, como um afiliado direto da Al Qaeda. O líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, também estava envolvido em sua formação.
O HTS foi considerado um dos grupos mais eficazes e mortais contra o presidente Assad em 2011, quando o governo reprimiu diversas revoltas em meio ao que ficou conhecido como a Primavera Árabe.
Mas sua ideologia jihadista parecia ser sua força motriz - e na época o grupo foi visto como opositor da principal coalizão rebelde sob a bandeira da Síria Livre.
E em 2016, o líder do grupo, Abu Mohammed al-Jawlani, rompeu publicamente com a Al Qaeda, dissolveu a Jabhat al-Nusra e criou uma nova organização, que assumiu o nome de Hayat Tahrir al-Sham quando se fundiu com vários outros grupos parecidos um ano depois.
Já faz algum tempo que o HTS estabeleceu sua base de poder na província noroeste de Idlib, onde ocupa o governo local. Seus esforços em direção à legitimidade, no entanto, foram manchados por denúncias de violações de direitos humanos.
— Reação internacional
Após uma reunião em Doha hoje para discutir a Síria, cinco países árabes, juntamente com a Rússia, o Irã e a Turquia, dizem que uma solução política é necessária para parar os combates e proteger os civis.
Em uma declaração conjunta, o grupo disse que a crise atual representa uma ameaça à segurança regional e internacional.
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse que é inadmissível permitir que um grupo que ele descreveu como terroristas tome conta da Síria.
A Rússia tem sido aliada do presidente Bashar al-Assad e interveio para permitir que ele permanecesse no poder há quase uma década. Mas não forneceu um nível semelhante de apoio militar na semana passada.
Ele acrescentou que Moscou se oporia ao avanço dos militantes "de todas as maneiras possíveis".
— Por que a Síria está em guerra?
Em março de 2011, manifestações pró-democracia irromperam na cidade de Deraa, no sul do país, inspiradas por levantes em países vizinhos contra governantes autoritários.
Quando o governo sírio matou manifestantes para esmagar a dissidência, protestos exigindo a renúncia do presidente irromperam em todo o país. A agitação se espalhou e a repressão se intensificou.
Os apoiadores da oposição pegaram em armas, primeiro para se defender e depois para livrar suas áreas das forças de segurança.
Centenas de grupos rebeldes surgiram, potências estrangeiras começaram a tomar partido e organizações jihadistas extremistas, como o grupo Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, se envolveram.
A violência aumentou rapidamente e o país mergulhou em uma guerra civil em grande escala, atraindo potências regionais e mundiais.
Mais de meio milhão de pessoas foram mortas e 12 milhões foram forçadas a fugir de suas casas, cerca de cinco milhões das quais são refugiados ou pedem asilo no exterior.
O governo de Assad foi tendo vitórias e a guerra parecida ter acabado na prática nos últimos quatro anos. Não havia levantes na maior parte do país.
Algumas áreas permaneceram fora do controle do governo.
Isso inclui áreas de maioria curda no leste, que estão mais ou menos separadas do controle do estado sírio desde os primeiros anos do conflito.
Houve alguma agitação contínua, embora relativamente silenciosa, no sul, onde a revolução contra o governo de Assad começou em 2011.
No vasto deserto sírio, os resistentes do grupo Estado Islâmico ainda representam uma ameaça à segurança, principalmente durante a temporada de caça às trufas, quando as pessoas vão para a área para encontrar a iguaria altamente lucrativa.
E no noroeste, o controle da província de Idlib foi mantido por grupos jihadistas que foram para lá no início da guerra.
O HTS, a força dominante em Idlib, é quem lançou o ataque surpresa a Aleppo.
Por vários anos, Idlib permaneceu um campo de batalha enquanto as forças do governo sírio tentavam retomar o controle.
Mas havia um acordo de cessar-fogo em 2020 intermediado pela Rússia, que há muito tempo é a principal aliada de Assad, e pela Turquia, que apoiou os rebeldes.
Cerca de quatro milhões de pessoas vivem lá - a maioria delas deslocadas de vilas e cidades que as forças de Assad reconquistaram dos rebeldes em uma guerra brutal.
Aleppo foi um dos campos de batalha mais sangrentos e representou uma das maiores derrotas dos rebeldes.
Para alcançar a vitória, o presidente Assad não podia depender apenas do exército mal equipado e mal motivado do país, que logo se tornou perigosamente dispersado e incapaz de manter posições contra ataques rebeldes.
Em vez disso, ele passou a depender fortemente do poder aéreo russo e da ajuda militar iraniana em terra - principalmente por meio de milícias militares patrocinadas por Teerã - entre elas, o Hezbollah.
Há pouca dúvida de que o revés que o Hezbollah sofreu recentemente com a ofensiva de Israel no Líbano, bem como os ataques israelenses a comandantes militares iranianos na Síria, desempenhou um papel significativo na decisão de grupos jihadistas e rebeldes em Idlib de fazer seu movimento repentino e inesperado em Aleppo.
Nos últimos meses, Israel intensificou seus ataques a grupos ligados ao Irã, bem como suas linhas de suprimento, infligindo sérios danos às redes que mantiveram essas milícias operando na Síria, incluindo o Hezbollah.
Sem elas, as forças do presidente Assad ficaram expostas.
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