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Portugal: Segunda noite de tumultos e violência na Grande Lisboa: quatro feridos e três detidos


 






Quatro pessoas ficaram feridas, incluindo dois polícias, e várias viaturas foram danificadas. Três pessoas foram detidas. Desacatos registados em vários concelhos de Lisboa foram desencadeados pela revolta popular devido à morte de um homem, baleado por um agente da PSP.

A região da grande Lisboa viveu uma noite de tumultos, com várias ocorrências de violência e vandalismo a serem registadas em diferentes locais, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora).

No bairro do Zambujal, os desacatos regressaram, com vários contentores do lixo incendiados e objetos arremessados. Também neste bairro no concelho da Amadora,  um autocarro foi incendiado ao início da noite.

“Hoje, lamentavelmente, voltámos a assistir a situações de desordem no interior do Bairro do Zambujal, designadamente a um episódio grave de violência urbana, com a subtração de um autocarro da Carris que, à posteriori, foi incendiado”, informou a PSP, em comunicado, explicando ainda que já tinha um dispositivo policial reforçado naquele local, tendo efetuado uma detenção “por posse de material combustível, que indiciava a sua utilização para deflagração de incêndio”. Os desacatos foram descritos pela PSP como uma “episódio grave de violência urbana”.

Além do policiamento no bairro do Zambujal, a PSP reforçou também os meios em vários locais, nomeadamente nas denominadas Zonas Urbanas Sensíveis.

Às primeiras horas da madrugada, houve uma tentativa de atear fogo a um posto de abastecimento de combustível, localizado perto do bairo da Cova da Moura. O incidente não chegou a provocar nenhuma explosão.

Durante a noite, foram também registados tumultos em Carnaxide, no concelho de Oeiras, mais precisamente no bairro da Portela, onde foram registados disparos e incendiado um autocarro, além de vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira.

No concelho de Sintra, foi arremessado um objeto contra a esquadra da PSP de Casal de Cambra, sem causar danos e na Damaia foram registados desacatos em várias ruas, nomeadamente o arremesso de petardos e de pedras na via pública e ainda fogo posto em vários caixotes do lixo.

Em comunicado, a PSP diz que “repudia e não tolerará os atos de desordem e de destruição praticados por grupos criminosos, apostados em afrontar a autoridade do Estado e em perturbar a segurança da comunidade”.

A segunda noite de violência nas ruas acontece após a morte de Odair Moniz, de 43 anos, baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora. O disparo deu-se em sequência de uma fuga do cidadão cabo-verdiano à PSP, mas esta força policial não explicou por que razão houve essa fuga.

Três detidos e quatro feridos, incluindo dois polícias

De acordo com o último balanço da PSP, além dos três detidos, resultado dos distúrbios, contam-se também, dois polícias feridos, nos concelhos da Amadora e Oeiras "por arremesso de pedras, tendo os mesmos necessitado de receber tratamento hospitalar e um deles entrado em situação de baixa médica". Duas viaturas policiais foram danificadas.

Além dos dois autocarros da Carris, roubados e incendiados, oito veículos ligeiros de passageiros foram queimados, assim como um motociclo.

Dois passageiros de um dos autocarros incendiados foram vítimas de esfaqueamento, "ainda que sem gravidade, alegadamente pelos indivíduos que roubaram e incendiaram a viatura pesada de passageiros", informou a PSP.

Já em conferência de imprensa esta tarde de quarta-feira, a PSP adiantou ainda que nos últimos dois dias registou 60 ocorrências de desordem e incêndio.

O diretor nacional da PSP em substituição, Pedro Gouveia, sublinhou que a PSP terá "tolerância zero" para com atos de desordem praticados por "grupos criminosos", como os que têm vindo a ocorrer na zona de Lisboa.

"Repudiamos e temos tolerância zero com qualquer ato de desordem e destruição protagonizados por grupos criminosos", afirmou o responsável.

Há ainda "várias dezenas de indivíduos prestes a serem identificados" pela prática de crimes de incitação à violência e à desordem pública nas redes sociais.

Questionado pelos jornalistas sobre os relatos de família de Odair Moniz, que garante que a polícia invadiu na terça-feira a casa onde vivia o homem de 43 anos, o diretor nacional da PSP em substituição rejeitou que tal tenha acontecido.

"Nunca houve entrada forçada dentro de nenhuma residência", garantiu Pedro Gouveia.

Além disso, a PSP desmentiu a informação de que Odair Moniz era suspeito de furto de viatura e que esse teria sido o motivo para a intervenção policial, confirmando que o homem de 43 anos seguia na própria viatura quando foi abordado pelos agentes.

"Estes distúrbios são inadmissíveis" diz ministra

Em declaraões aos jornalistas, a ministra da Aministração Interna, Margarida Blasco, fala em "disútrbios inadmissíveis" que não permitem "às comunidades fazer a sua vida normal". Margarida Blasco informou que foi feita uma reunião de emergência do Sistema de Segurança Interna, que se mantém em "permanente contacto" com as forças de segurança, principalmente a PSP.

A ministra informou que três pessoas foram detidas na sequência dos tumultos e deixou uma garantia: "Tudo faremos para levar todos os que participaram nestes tumultos à Justiça".

MAI abre inquérito urgente

Na segunda-feira, a ministra da Administração Interna determinou a abertura de inquérito para determinar as circunstâncias da morte de Odair Moniz.

Em comunicado, o Ministério da Administração Interna (MAI) indica que a ministra determinou a abertura de um inquérito "com caráter de urgência" para "apuramento das circunstâncias em que ocorreram os factos que envolveram agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) numa operação policial".

Em comunicado, a PSP explicou que os agentes da polícia procederam à “interceção de um indivíduo que momentos antes se havia colocado em fuga à Polícia” pelas 05:43, no Bairro Alto da Cova da Moura, no passado dia 21.

Aquela força policial explicou que, quando os agentes fizeram a “abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”, adiantando ainda que “um dos polícias, esgotados outros meios e esforços", recorreu à arma de fogo e atingiu o suspeito "em circunstâncias a apurar em sede de inquérito criminal e disciplinar”.

A polícia informou ainda que “o suspeito foi prontamente assistido no local e transportado para o Hospital São Francisco Xavier”, acabando por morrer pelas seis da manhã.

Esta quarta-feira, numa nova comunicação, a PSP disse “lamentar a morte” de Odair Moniz, reforçando que esta  “se encontra a ser investigada pelas autoridades judiciárias”. A polícia deixou ainda “uma palavra de solidariedade aos nossos dois polícias envolvidos no incidente, bem como a todos os polícias envolvidos na reposição e manutenção da ordem pública no concelho da Amadora”.

O agente que baleou o homem foi entretanto constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.

“Segurança e a ordem pública são valores democráticos” diz Marcelo

O presidente da República também já se pronunciou sobre os episódios de violência sentidos na área metropolitana de Lisboa. Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa revela ter “vindo a acompanhar, atentamente, em contacto com o Governo e os Presidentes das Câmaras Municipais da Amadora e de Oeiras, os acontecimentos das últimas 48 horas”.

Na nota, o presidente destaca “três pontos que considera essenciais”, começando por frisar que “a segurança e a ordem pública são valores democráticos cuja preservação importa garantir, em particular através do papel das forças de segurança”. O chefe de Estado escreve que “essa garantia tem de respeitar os princípios do Estado de Direito Democrático, designadamente os Direitos, Liberdades e Garantias dos cidadãos, bem como fazer cumprir os respetivos Deveres”.

Por último, Marcelo refere que a sociedade portuguesa, “apesar dos problemas sociais, económicos, culturais e as desigualdades que ainda a atravessam, é uma sociedade genericamente pacífica, e assim quer continuar a ser, sem instabilidade e, muito menos, violência".

"As pessoas ficaram incrédulas”

Na terça-feira, dezenas de pessoas juntaram-se à  porta do apartamento onde morava Odair Moniz, no bairro do Zambujal, na Amadora para lhe prestar uma homenagem. Cidadão de origem cabo-verdiana, de 43 anos, era dono e gerente de um café e conhecido por todos no bairro pela alcunha "Dá".

A mobilização foi convocada por uma associação de moradores daquela localidade. "As pessoas ficaram incrédulas [com a morte de Odair Moniz]", disse à Lusa Gilberto Pinto, presidente da associação de moradores do bairro, chamada A Partilha.

“Isto é uma bola de neve, apoderou-se um sentimento de injustiça", justificou o morador à agência noticiosa portuguesa.

Os moradores destacam a personalidade de Odair e recusam acreditar na versão da polícia, que diz que este os ameaçou com uma arma branca.

Credito: Euronews

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