Cientistas sociais analisaram uma guinada de apoio de Trump a outros líderes de extrema direita e divergência sobre meio ambiente com Lula
A eleição que consagrou o retorno do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos promete trazer impactos nas relações diplomáticas com o Brasil e outros países. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que o resultado fortalece nações comandadas por líderes de extrema direita e pode influenciar os conflitos em curso no Oriente Médio e no Leste Europeu.
Para Juliana Fratini, doutora em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a volta de Trump à presidência vai favorecer as relações com Israel, cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, é alinhado ideologicamente ao republicano. Os dois líderes conversaram nessa quarta-feira (6/11), após a vitória de Trump.
Outra figura que pode ser beneficiada é o presidente argentino, Javier Milei. A especialista pontua que, apesar de divergirem sobre questões econômicas, os dois guardam semelhanças em pautas de costumes. “Não existe um alinhamento específico, mas o Milei, assim como o Trump, é anticultura ‘woke’ e de defesa de minorias”, avalia Fratini.
Rodrigo Reis, especialista em relações internacionais, ressalta que a vitória de Trump reforça a onda de governos ultraconservadores, que há vozes como Netanyahu, de Israel, Narendra Modi, da Índia, e Viktor Orban, da Hungria.
O Trump entra nessa classe de estadistas que têm posicionamento muito claro e colaboram entre si. Na época do presidente [Jair] Bolsonaro, a gente viu muito desse estreitamento de relações entre governos de direita mundiais. E uma certa colaboração, um apoio para a renovação desses mandatos”, pontua Reis.
Por outro lado, segundo Fratini, a vitória de Trump deve tensionar relações já enfraquecidas com alguns países, como Rússia, China, Venezuela, Nicarágua e Cuba.
“Em todas as circunstâncias, a América não vai se posicionar a favor da Rússia, mesmo se tivesse sido a Kamala [Harris] eleita. Porque a Rússia é vista como uma potência nuclear e uma ditadura também”, observa. “A China também é um país malvisto pelos americanos, até porque existe uma concorrência econômica global entre esses dois países”, complementa.
Relação com o Brasil
Na avaliação dos especialistas, a eleição nos Estados Unidos pode ter impacto negativo na relação com o Brasil. Durante a corrida eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse apoiar a candidatura da democrata Kamala Harris.
“O Trump foi um aliado do Bolsonaro no passado, e o Lula, de alguma forma, manifestou o seu posicionamento pró-Kamala, ainda durante as campanhas, o que de certo modo pode implicar ali algum tensionamento na própria relação presidencial, na diplomacia presidencial”, pondera Ariane Roder, cientista política do Coppead/UFRJ e especialista em relações internacionais.
Ela frisa ainda que tanto Lula quanto o PT ficarão atentos ao “fortalecimento da extrema direita global”.
Além de questões de ideologia no espectro político, os líderes divergem em temas relevantes ao Brasil, como a preservação do meio ambiente. “Trump tem uma característica mais negacionista em relação a essa pauta, então a tendência por parte dos Estados Unidos é um esvaziamento dessa agenda, ou seja, não participação nos foros internacionais sobre esse debate e também, de alguma forma, fazendo discursos que enfraqueçam as medidas que estão sendo adotadas”, avalia Ariane Roder.
As relações comerciais, no entanto, não devem ser afetadas, apesar de isso “esbarrar” em questões de direitos humanos.
Credito: Metrópoles
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