📸 Volodymyr Zelensky (C) conversa com Antonio Costa e Ursula von der Leyen, presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia - (crédito: Nicolas Tucat/AFP)
— Moscou classifica como ameaça a "retórica nuclear" da França, compara o presidente Emmanuel Macron a Adolf Hitler e se nega a participar de corrida bélica. União Europeia apoia plano trilionário para rearmamento do bloco
Depois de o presidente da França, Emmanuel Macron, propor o uso do arsenal nuclear de seu país para proteger a Europa, os países da União Europeia (UE) respaldaram um plano de rearmamento de reforço da defesa do bloco, durante cúpula extraordinária realizada em Bruxelas. A Rússia reagiu e afirmou que não tem intenção de participar de uma corrida armamentista. "Eles não vão nos vencer, porque não nos envolveremos com eles. Vamos nos concentrar em nossos próprios assuntos e proteger nossos próprios interesses", declarou Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, criticou indiretamente Macron, ao lamentar a existência de "pessoas que querem retornar aos tempos de Napoleão Bonaparte, esquecendo como tudo terminou". Em 1812, as tropas do imperador francês invadiram o Império Russo e tomaram Moscou; no entanto, viram-se obrigadas a uma retirada desastrosa.
O ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, comparou Macron ao líder nazista Adolf Hitler. "Ao contrário de seus antecessores, que também buscavam lutar contra a Rússia — Napoleão e Hitler —, o sr. Macron não age muito diplomaticamente. Eles (Napoleão e Hitler) declaravam abertamente: 'Nós devemos conquistar e derrotar a Rússia'. Aparentemente, ele quer a mesma coisa, mas, por alguma razão, diz ser necessário lutar contra a Rússia para que ele não derrote a França", disse. "Com relação a essas acusações, francamente falando, irracionais, de que a Rússia prepara uma guerra contra a Europa e a França, Putin repetidamente chamou tais pensamentos de absurdos e sem sentido."
Segundo Lavrov, as palavras de Macron sobre o uso de armas nucleares são "uma ameaça à Rússia". "Se ele nos vê como uma ameaça, e diz que é necessário (...) preparar o uso de armas nucleares contra a Rússia, é claro que é uma ameaça." Ele alertou que o envio de soldados europeus para a Ucrânia configuraria uma "guerra direta" com a Rússia. "Consideraremos a presença dessas tropas (europeias) em território ucraniano da mesma forma que vemos uma potencial presença da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Ucrânia. Isso significaria não um envolvimento supostamente híbrido, mas direto, oficial e não disfarçado de países da Otan em uma guerra contra a Federação Russa", afirmou.
Ao fim da cúpula, Macron fez um pronunciamento no qual acusou Putin de "revisionista" e de "imperialista". O francês também sublinhou que "a Rússia representa uma ameaça existencial a longo prazo para a Europa". "O que está em jogo na Ucrânia é a soberania deste país, mas também a segurança de todos nós."
— "Momento decisivo"
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, considera que "a Europa e a Ucrânia estão diante de um momento decisivo". "Temos que colocar a Ucrânia em posição de se defender sozinha", destacou. Para se rearmar, a UE poderá gastar até 800 trilhões de euros (cerca de R$ 4,97 trilhões), sem cronograma definido. Por meio da rede social X, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, contou que debateu com os líderes europeus "o fortalecimento das capacidades de defesa da Ucrânia e de toda a Europa". Ao discursar em Bruxelas, o líder ucraniano fez questão de agradecer o apoio europeu. "Estamos muito agradecidos porque não estamos sozinhos", disse Zelensky.
Na opinião de Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev), a reação de Moscou à proposta de Macron de estender o guarda-chuvas nuclear a outros países europeus é uma tentativa de intimidar a França. "Quanto à ameaça contra o envio de tropas, vejo como um sinal de alerta e o desejo de impor condições antes de negociações sérias para um acordo de paz", explicou ao Correio. "É possível que o Kremlin queira influenciar Trump sobre o que é aceitável ou não em um pacto de trégua."
Burkovsky classifica como "clara" a estratégia de rearmamento. "A Suécia iniciou a reorganização de seu exército em 2014. O mesmo ocorreu com a Finlândia. A Polônia começou em 2022. A França e o Reino Unido aprenderam com a guerra moderna na Ucrânia. Perceberam que precisam reduzir os arsenais e munições e desenvolver tecnologias defensivas e ofensivas", afirmou o especialista. "Estamos no início de uma corrida armamentista na Europa. Pelo menos esses países serão capazes de defender a própria soberania."
Professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla, Olexiy Haran disse à reportagem que Putin dissemina a propaganda de que Zelensky não se interessaria pela paz e acusou o americano Donald Trump de pretender vender a Ucrânia para a Rússia. "Putin deseja transformar a Ucrânia em marionete, antes de capturar o território", alertou.
De acordo com Haran, "os europeus sentem-se inseguros ante a política imprevisível de Trump". "Se a Rússia atacar qualquer nação europeia, quem os EUA ajudarão?". O estudioso crê que a proposta de Macron visa apoiar a Ucrânia e a Europa ante o perigo de um ataque de Moscou. "Não sabemos como as forças nucleares da França serão usadas. Há uma nova posição: os países europeus não precisam temer Putin." Haran vê duas possibilidades para a Europa: não se alinhar em torno de um acordo de paz, ainda que isso leve a uma nova guerra, ou investir na segurança do continente.
— Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev).
EU ACHO...
"Creio que a última coisa que a Rússia deseja é se expor a uma retaliação nuclear. O alinhamento de poderes nucleares, como o Reino Unido e a França, com a Ucrânia é mais do que suficiente para conter a ameaça atômica de Moscou. Sob esse ponto de vista, a vasta maioria dos países europeus estaria disposta a fazer uma aliança contra Putin, em vez de tentar comprar uma proposta de paz feita pelo Kremlin."
Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev)
— Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla
Putin dissemina a propaganda de que Zelensky não se interessaria pela paz. No entanto, a paz às custas de concessões territoriais foi o que levou à Segunda Guerra Mundial. Isso significaria uma capitulação de Kiev ante Moscou. Até o momento, Putin não fez qualquer concessão. Ele continua a bombardear civis, todos os dias e todas as noites. A solução para o fim da guerra passa pela negociação, mas não em uma situação de fragilidade."
Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla
Nenhum comentário:
Postar um comentário