Regresso da Ucrânia às fronteiras anteriores a 2014 e adesão à NATO são "irrealistas", diz Hegseth aos aliados
O novo secretário da Defesa dos EUA excluiu categoricamente a possibilidade de conceder a adesão à NATO à Ucrânia como garantia de segurança para acabar com a guerra da Rússia.
O regresso da Ucrânia às suas fronteiras anteriores a 2014 e a adesão à NATO são objetivos “irrealistas” que devem ser excluídos de qualquer futuro acordo de paz, disse o secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, aos aliados na quarta-feira, ao sublinhar a intenção do presidente Donald Trump de acabar com a guerra da Rússia “pela diplomacia”.
As declarações de Hegseth foram feitas durante uma reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia, composto por 46 nações, em Bruxelas.
“Queremos, tal como vós, uma Ucrânia soberana e próspera. Mas temos de começar por reconhecer que o regresso às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 é um objetivo irrealista. Perseguir este objetivo ilusório só vai prolongar a guerra e causar mais sofrimento”, disse Hegseth aos seus homólogos.
“Uma paz duradoura para a Ucrânia deve incluir garantias de segurança sólidas para assegurar que a guerra não recomeça. Não deve ser Minsk 3.0”, acrescentou, referindo-se ao malogrado acordo que não conseguiu pôr fim à guerra do Donbas.
“Dito isto, os Estados Unidos não acreditam que a adesão da Ucrânia à NATO seja um resultado realista de um acordo negociado. Em vez disso, qualquer garantia de segurança deve ser apoiada por tropas europeias e não europeias capazes”.
Hegseth sublinhou que as tropas americanas não farão parte de qualquer missão de manutenção da paz na Ucrânia para garantir a estabilidade do futuro acordo de paz e que tal missão “não deve ser abrangida” pelo artigo 5 da NATO sobre defesa colectiva.
A ideia de colocar “botas no terreno” na Ucrânia ganhou força nos últimos meses, com França a liderar a difícil conversa. O debate, no entanto, continua por resolver e poderá tomar um novo rumo após os comentários de Hegseth, uma vez que a falta de garantias de defesa coletiva deixaria as tropas ocidentais vulneráveis a ataques russos.
“A nossa mensagem é clara: o derramamento de sangue tem de acabar e esta guerra tem de terminar”, disse Hegseth.
Há muito que Kiev pretende aderir à aliança, argumentando que o artigo 5.º da defesa coletiva seria a garantia de segurança mais eficaz para impedir o Kremlin de lançar um novo ataque. Embora o objetivo seja apoiado pela Polónia e pelos Estados Bálticos, outros, como a Alemanha, têm mostrado maior relutância. A Hungria e a Eslováquia opõem-se firmemente.
A questão do território é também muito delicada para a Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelenskyy defendeu a recuperação total de todos os territórios ocupados pela Rússia, incluindo a península da Crimeia e o Donbas.
Numa nova entrevista ao The Guardian, Zelenskyy disse estar disposto a oferecer à Rússia uma troca territorial, cedendo a parte da região de Kursk que a Ucrânia detém atualmente.
“Trocaremos um território por outro”, disse Zelenskyy ao jornal, sem especificar que território pediria em troca. “Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há nenhuma prioridade”.
“Divisão do trabalho"
Na sua intervenção, Hegseth fez eco de muitas das mensagens anteriores de Donald Trump, instando os aliados a aumentar a despesa com a defesa até 5% do seu PIB (uma percentagem que nem os EUA cumprem) e a “assumir a responsabilidade” pela segurança a longo prazo da Europa.
O antigo apresentador da Fox News apelou aos europeus para que “forneçam a maior parte da futura ajuda letal e não letal à Ucrânia” e aumentem as doações de munições e equipamento militar, de que o país necessita para repelir as tropas russas. Desde o início da invasão, os Estados- membros da UE forneceram a Kiev um apoio de 134 mil milhões de euros.
“Os Estados Unidos continuam empenhados na aliança da NATO e na parceria de defesa com a Europa. Ponto final”, disse ele. “Mas os Estados Unidos não vão continuar a tolerar uma relação desequilibrada que encoraja a dependência.”
Hegseth defendeu também uma “divisão de trabalho” em que os aliados europeus assegurariam a segurança da Europa enquanto os Estados Unidos se voltariam para a região do Pacífico para impedir uma guerra com a China.
“Os aliados europeus devem liderar a partir da frente”, afirmou.
Ao seu lado, o secretário da Defesa do Reino Unido, John Healey, manifestou a sua simpatia pelas preocupações de Hegseth e prometeu que a Europa iria aumentar as suas despesas com a defesa.
“Sabemos quais são as nossas responsabilidades. Estamos a fazer mais do trabalho pesado, partilhando mais do fardo”, afirmou Healey.
Numa conferência de imprensa antes da reunião ministerial, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, instou a Europa e o Canadá a aumentarem “consideravelmente” as suas despesas militares, alertando para o facto de as lacunas de capacidade serem “simplesmente demasiado grandes” para o atual objetivo de 2% do PIB.
“Se nos mantivermos nos 2%, não poderemos defender-nos em quatro ou cinco anos”, afirmou Rutte.
Atualmente, oito dos 32 membros da NATO não cumprem o objetivo.
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