Trump falou com um repórter do New York Post na sexta-feira, a bordo do Air Force One, dizendo que Putin "quer que as pessoas deixem de morrer".
Donald Trump revelou que já teve uma conversa telefónica - ou mais do que uma conversa telefónica - com o presidente russo, Vladimir Putin.
Trump falou com um repórter do New York Post na sexta-feira, a bordo do Air Force One, dizendo que Putin "quer que as pessoas deixem de morrer".
"Todos os dias estão a morrer pessoas. Esta guerra é tão má na Ucrânia. Eu quero acabar com esta maldita coisa", acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos (EUA) disse que não iria revelar quantas vezes falou com Putin, mas deixou claro que eles têm uma "boa relação".
Antes de voltar a assumir o cargo, Donald Trump tinha prometido que acabaria com a guerra em 24 horas quando fosse presidente.
Em Moscovo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, referiu que "não pode confirmar nem negar" a conversa telefónica de Trump - ou conversas - com Putin.
"As comunicações entre Moscovo e Washington ocorrem através de diferentes canais", notou.
Qual é a probabilidade de as negociações acabarem com a guerra na Ucrânia?
Apesar de Trump ter afirmado que quer ver negociações sobre a Ucrânia, não é claro se Putin realmente as quer.
Quase três anos depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, as suas tropas estão a fazer progressos constantes no campo de batalha. Kiev debate-se com a escassez de homens e armas. E o novo presidente dos EUA poderá em breve suspender o fornecimento maciço de ajuda militar à Ucrânia.
Putin está mais perto do que nunca de atingir os seus objectivos no país cansado da batalha, com poucos incentivos para se sentar à mesa das negociações, por muito que o presidente norte-americano o possa persuadir ou ameaçar, de acordo com especialistas russos e ocidentais entrevistados pela Associated Press (AP).
Ambos estão a sinalizar discussões sobre a Ucrânia - por telefone ou pessoalmente - usando elogias e ameaças.
Putin disse que Trump era "inteligente e pragmático", e até repetiu as suas falsas alegações de ter vencido as eleições de 2020. A primeira jogada de Trump foi chamar Putin de "esperto" e ameaçar a Rússia com tarifas e cortes no preço do petróleo, algo que o Kremlin ignorou.
Trump indicou que os EUA estão a falar com a Rússia sobre a Ucrânia sem a participação de Kiev, dizendo que a sua administração já teve discussões "muito sérias".
Sugeriu que ele e Putin poderiam, em breve, tomar medidas "significativas" para pôr fim à guerra, na qual a Rússia está a sofrer pesadas baixas diárias, enquanto a sua economia enfrenta duras sanções ocidentais, inflação e uma grave escassez de mão de obra.
Mas a economia não entrou em colapso e, como Putin desencadeou a mais dura repressão contra a dissidência desde os tempos soviéticos, não tem qualquer pressão interna para pôr fim à guerra.
"No Ocidente, veio de algures a ideia de que é importante para Putin chegar a um acordo e acabar com as coisas. Não é esse o caso", disse Fyodor Lukyanov, anfitrião de um fórum com Putin em novembro e presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa de Moscovo.
O residente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, diz que Putin quer negociar diretamente com Trump, excluindo Kiev. Isso vai contra a posição da administração Biden, que ecoou o apelo de Zelenskyy de "Nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".
"Não podemos deixar que alguém decida algo por nós", disse Zelenskyy à AP, afirmando que a Rússia quer a "destruição da liberdade e da independência da Ucrânia".
Sugeriu que qualquer acordo de paz enviaria o perigoso sinal de que o aventureirismo compensa para os líderes autoritários da China, Coreia do Norte e Irão.
Putin parece estar à espera que Trump enfraqueça a determinação europeia em relação à Ucrânia. Descrevendo os líderes europeus como vassalos de Trump, o presidente da Rússia disse no domingo que em breve eles estarão "sentados obedientemente aos pés do seu dono e a abanar docemente as caudas", à medida que o presidente dos EUA rapidamente põe ordem com o seu "caráter e persistência".
Trump gaba-se da sua capacidade de fazer acordos, mas Putin não abdicará facilmente daquilo que considera serem as terras ancestrais da Rússia na Ucrânia, nem desperdiçará uma oportunidade de castigar o Ocidente e minar as suas alianças e segurança, obrigando Kiev a uma política de neutralidade.
Trump pode querer um legado como pacificador, mas "a história não o verá com bons olhos se ele for o homem que dá tudo isto por perdido", disse Kim Darroch, embaixador britânico nos EUA de 2016 a 2019. Oana Lungescu, antiga porta-voz da NATO, afirmou que um acordo que favorecesse Moscovo enviaria uma mensagem de "fraqueza americana".
Trump e Putin encontraram-se pela última vez em Helsínquia em 2018, quando havia "respeito mútuo" entre eles, disse o ex-presidente finlandês Sauli Niinistö, o anfitrião da cimeira. Mas eles "não são muito semelhantes", vincou, com Putin a ser um pensador "sistemático", enquanto Trump age como um homem de negócios que toma decisões "rápidas".
Isso poderá provocar um confronto, uma vez que Trump pretende uma resolução rápida da guerra, enquanto Putin procura uma resolução mais lenta, que reforce a sua posição militar e enfraqueça a vontade política de Kiev e do Ocidente.
Zelenskyy disse à AP que Putin "não quer negociar" e "vai sabotar a negociação". De facto, Putin já levantou obstáculos, incluindo obstáculos legais e afirmou que Zelenskyy perdeu a sua legitimidade como presidente.
Putin espera que Trump se "aborreça" ou se distraia com outra questão, disse Boris Bondarev, um antigo diplomata russo em Genebra que abandonou o seu posto após a invasão.
Os especialistas russos apontam para o primeiro mandato de Trump, quando dizem que Putin se apercebeu de que essas reuniões pouco conseguiam.
Uma delas foi uma vitória de relações públicas para Moscovo em Helsínquia, onde Trump ficou do lado de Putin em vez das suas próprias agências de inteligência a propósito da possível interferência da Rússia nas eleições de 2016. Outra foi em Singapura, em 2019, com o líder norte-coreano Kim Jong Un, quando não conseguiu chegar a um acordo para travar o programa nuclear de Pyongyang.
No ano passado, o Kremlin disse que um projeto de acordo de paz - que Kiev rejeitou - poderia ser a base para as conversações.
Exigiu a neutralidade da Ucrânia, estipulou que a NATO lhe negasse a adesão, impôs limites às forças armadas de Kiev e adiou as conversações sobre o estatuto de quatro regiões ocupadas pela Rússia que Moscovo anexou ilegalmente mais tarde. Moscovo também rejeitou a exigência de retirar as suas tropas, pagar uma indemnização à Ucrânia e enfrentar um tribunal internacional pela sua ação.
Putin não indicou que irá ceder, mas disse que "se houver vontade de negociar e encontrar uma solução de compromisso, que alguém conduza essas negociações".
"O envolvimento não é o mesmo que negociação", disse Laurence Bristow, embaixador britânico na Rússia de 2016 a 2020, descrevendo a estratégia russa numa lógica de "o que é meu é meu, e o que é vosso pode ser negociado".
Bondarev também observou que Putin vê as negociações apenas como um veículo "para lhe entregar o que ele quer", sublinhando que é "surpreendente" que os líderes ocidentais ainda não entendam as táticas do Kremlin.
Isto significa que é provável que Putin aceite de bom grado qualquer reunião com Trump, uma vez que promove a Rússia como uma força global e joga bem a nível interno, mas oferecerá pouco em troca.
Trump disse que Zelenskyy deveria ter feito um acordo com Putin para evitar a guerra, salientando que não teria permitido que o conflito começasse se ele estivesse no cargo.
Trump ameaçou a Rússia com mais tarifas, sanções e cortes no preço do petróleo, mas não há nenhuma "arma maravilhosa" económica que possa acabar com a guerra, disse Richard Connolly, um especialista militar e económico russo do Royal United Services Institute de Londres.
E o Kremlin está a ignorar as ameaças, provavelmente porque o Ocidente já sancionou fortemente a Rússia.
Trump também não pode garantir que a Ucrânia nunca se junte à NATO, nem pode levantar todas as sanções ocidentais, forçar facilmente a Europa a retomar a importação de energia russa ou fazer com que o Tribunal Penal Internacional anule o seu mandado de captura por crimes de guerra contra Putin.
Mas pode pressionar a Rússia, apoiando a indústria petrolífera norte-americana com subsídios e levantando as tarifas comerciais de 10% impostas à China em troca de Pequim limitar os laços económicos com Moscovo, o que poderia deixar a Rússia "verdadeiramente isolada", realçou Connolly.
A Europa também pode reiterar o seu compromisso com Kiev e agradar a Trump, "comprando equipamento militar dos EUA para dar à Ucrânia", asseverou Peter Ricketts, um antigo conselheiro de segurança nacional do Reino Unido.
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