O bilionário da tecnologia e aliado próximo de Trump causou um choque na política alemã ao apoiar publicamente o partido de extrema-direita, alternativa para a Alemanha, semanas antes das eleições federais antecipadas.
O colíder do Partido Social Democrata alemão (SPD), Lars Klingbeil, comparou o bilionário Elon Musk ao presidente russo Vladimir Putin, afirmando que a sua decisão de intervir na política alemã semanas antes das eleições antecipadas é um exemplo de "interferência".
Na semana passada, Musk causou alvoroço na Alemanha, ao apoiar publicamente o partido extremista Alternativa para a Alemanha (AfD) na sua plataforma de redes sociais, X. Apesar da enxurrada de críticas que se seguiu, no sábado, Musk reiterou as suas declarações num artigo de opinião para o jornal Welt am Sonntag.
"O retrato da AfD como extremista de direita é claramente falso, considerando que Alice Weidel, a líder do partido, tem uma parceira do mesmo sexo do Sri Lanka!", escreveu Musk. "Isso soa-vos a Hitler? Por favor!"
Quando o artigo foi anunciado, a editora de opinião do jornal, Eva Marie Kogel, demitiu-se em protesto.
Numa entrevista ao jornal Funke Mediengruppe, na segunda-feira, Klingbeil comparou Musk a Putin, dizendo que "ambos querem influenciar as nossas eleições e estão a apoiar deliberadamente o AfD, os inimigos da democracia. Querem que a Alemanha fique enfraquecida e mergulhe no caos".
"Temos de ser muito mais pró-activos e limitar eficazmente o poder das grandes plataformas da Internet, como o serviço de mensagens curtas de Musk, o X. Aqui, um bilionário da tecnologia está a tentar usar a sua influência para influenciar o curso da política mundial".
Saskia Esken, co-líder do SPD de Klingbeil, também condenou Musk como um intrometido.
"Qualquer um que tente influenciar nossa eleição de fora, que apoie um partido antidemocrático e misantrópico como o AfD, seja a influência organizada pelo estado da Rússia ou pelo poder financeiro e de mídia concentrado de Elon Musk e seus amigos bilionários no conselho da Springer, deve esperar nossa resistência dura", disse ela à Reuters no domingo.
Friedrich Merz, que lidera o maior partido da oposição do país, a CDU, descreveu a campanha de Musk como "intrusiva e presunçosa" e chamou-lhe um exemplo sem precedentes de interferência eleitoral entre países "amigos".
Merz disse que Musk ignorou várias das políticas da AfD ao redigir o seu artigo, incluindo o seu desejo declarado de que a Alemanha deixe a União Europeia, algo que Merz e muitos outros argumentam que seria extremamente prejudicial para a economia alemã.
Musk tem afirmado repetidamente que o AfD é a última esperança da Alemanha, alegando que outros partidos políticos falharam o país e levaram à sua "estagnação económica" e à "erosão da identidade nacional".
Mas, embora Weidel esteja de facto numa união civil entre pessoas do mesmo sexo, o AfD tem sido uma das vozes mais altas contra os direitos LGBTQ+ no parlamento alemão. Em 2019, antes das eleições regionais no seu reduto da Turíngia, o partido apresentou uma moção para revogar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Na mesma página que o artigo de Musk, o editor-chefe designado do Welt am Sonntag, Jan Philipp Burgard, reconheceu que o artigo seria controverso, escrevendo numa resposta que "o diagnóstico de Musk está correto, mas a sua abordagem terapêutica, de que só a AfD pode salvar a Alemanha, é fatalmente errada".
A AfD está atualmente em segundo lugar nas sondagens, atrás da CDU, antes das eleições federais alemãs. No entanto, todos os outros grandes partidos excluíram a possibilidade de formar uma coligação com o partido de extrema-direita.
Desde 2021, os serviços de informação nacionais classificam a AfD como uma organização extremista suspeita, uma designação contra a qual o partido tem lutado nos tribunais. Certas secções da AfD, incluindo toda a sua ala juvenil, são consideradas particularmente extremistas, e vários membros de alto nível foram condenados por usarem slogans proibidos da era nazi durante a campanha.
Na semana passada, membros do Partido Verde renovaram os apelos à proibição do AfD, depois de o Correctiv ter revelado pormenores de uma reunião, em meados de dezembro, entre figuras do partido e membros de movimentos extremistas proibidos, sobre o tema da "remigração".
A "remigração" é uma estratégia vagamente formulada que consiste em deportar em massa os imigrantes da Alemanha e os cidadãos alemães legais "não assimilados". Tem sido defendida por membros da AfD, juntamente com outras ideias anti-imigração de linha dura.
Musk expressou repetidamente o seu apoio à abordagem da AfD em relação à imigração, tal como o vice-presidente eleito, JD Vance, que expressou um apoio mais tácito à AfD no X, dizendo sarcasticamente: "É tão perigoso para as pessoas controlarem as suas fronteiras".
A posição oficial da nova administração do presidente eleito Donald Trump sobre a AfD ainda não é conhecida.
Na Internet, Musk foi alvo de escárnio quando publicou o seu artigo de opinião no X, chamando por engano "Weld" ao invés de "Welt", o que suscitou comentários de que não tinha conhecimentos sobre a política interna alemã para justificar os seus comentários.
Não é a primeira vez que Musk apoia um partido europeu de direita radical. No início deste mês, reuniu-se com o líder do partido de extrema-direita britânico Reform UK, Nigel Farage, levantando especulações de que estaria a fazer uma doação financeira substancial ao partido.
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